Dia Mundial da Esclerose Múltipla: cerca de 40 mil pessoas enfrentam desafios para viver com qualidade
A esclerose múltipla é uma doença inflamatória crônica que afeta o sistema nervoso central, com início mais comum entre os 20 e 40 anos de idade, período de amadurecimento do sistema imunológico e com impacto direto na produtividade e níveis de atenção. Justamente por surgir na juventude, em pleno auge produtivo e reprodutivo da vida, a EM impacta não apenas a saúde física e mental do indivíduo, mas também sua trajetória profissional, acadêmica e familiar. É uma doença que impõe desafios funcionais em uma fase de conquistas e projetos, o que torna ainda mais urgente o diagnóstico precoce e o manejo adequado.
No Brasil, cerca de 40 mil pessoas são impactadas com a enfermidade, de acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O diagnóstico precoce ainda é um desafio, especialmente fora dos grandes centros, no país. Como a patologia pode se manifestar de forma variável, os sintomas mais comuns como visão turva ou dupla, formigamentos e dormências nos membros, perda de força, desequilíbrio, fadiga intensa e alterações urinárias podem ser confundidos com outras doenças, como estresse ou problemas ortopédicos, oftalmológicos e ginecológicos.
A EM pode afetar diretamente a vida profissional, seja pelos sintomas motores, cognitivos ou pela fadiga crônica. Muitos pacientes relatam dificuldades para manter a produtividade, cumprir jornadas integrais ou acompanhar o ritmo do ambiente de trabalho. Estudos indicam que, mesmo com tratamento, uma parcela significativa dos pacientes reduz sua carga horária ou se afasta do mercado em até 10 anos após o diagnóstico. No entanto, com terapias mais eficazes e apoio psicossocial tem sido possível manter a inserção profissional de muitos deles. A inclusão no ambiente de trabalho e a flexibilização de funções são fundamentais para preservar esse vínculo.
A EM, por ser uma doença crônica e imprevisível, pode gerar estigmas e afetar a autoestima. O paciente, muitas vezes, sente que não é compreendido, principalmente, por apresentar sintomas invisíveis, como fadiga ou dor. Isso pode levá-lo ao isolamento, o que, por sua vez, aumenta o risco de depressão e piora do quadro clínico, além disso, as dificuldades nas relações afetivas, familiares e sociais são frequentes. Por isso, estratégias de apoio emocional, terapia e grupos de convivência são tão importantes quanto os tratamentos medicamentosos. A socialização é um fator protetor relevante contra o agravamento da doença.
A capacitação dos profissionais de saúde da atenção primária é fundamental para mudar esse cenário. Hoje conseguimos identificar pacientes com formas muito iniciais da doença, como a síndrome clínica e a síndrome radiologicamente isoladas.
Novas drogas imunobiológicas oferecem melhor controle da atividade inflamatória com menos efeitos adversos. O futuro da esclerose múltipla caminha para a medicina personalizada: tratamentos baseados no perfil imunológico, genético e de imagem de cada paciente. Essas inovações aumentam a esperança de manter os pacientes ativos, autônomos e com qualidade de vida por mais tempo. Não basta tratar a doença, é preciso cuidar de quem convive com ela.
*Dr. Eduardo Cardoso, médico neurologista da Clínica IBIS Imunoterapia
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